DO LEITO DE PROCUSTO À DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL: AS IMPLICAÇÕES DO SOLIPSISMO FILOSÓFICO PARA O DIREITO E SUA SUPERAÇÃO PELA HERMENÊUTICA JURÍDICA

Ricardo de Macedo Menna Barreto

Resumo


PROCRUSTEAN BED OF THE JUDICIAL DISCRETION: IMPLICATIONS FOR THE PHILOSOPHY OF SOLIPSISM AND HIS OVERCOMING LAW BY LEGAL HERMENEUTICS

RESUMO: O presente texto tem por objetivo analisar a problemática da discricionariedade judicial e o solipsismo filosófico a partir do Mito de Teseu, notadamente a partir do encontro deste herói grego com o sádico Procusto. Simbolicamente, Procusto configura a tirania intelectual exercida por pessoas que não toleram e nem aceitam as ações e os julgamentos alheios, desvelando-se como apólogo possível da intransigência atualmente revelada pelo solipsismo judicial, postura que cristaliza um quadro de discricionariedade judicial – fruto de certa resistência do paradigma positivista. Assim, buscaremos apontar para a superação desta postura solipsista, fundada em um sujeito transcendental, a partir da hermenêutica de Heidegger e Gadamer, matriz que permite, a partir do estabelecimento de certos padrões hermenêuticos, a preservação da autonomia e da coerência do direito. 

PALAVRAS-CHAVE: Solipsismo filosófico; discricionariedade judicial; hermenêutica jurídica. 

ABSTRACT: This paper aims to examine the issue of judicial discretion and solipsism philosophy from the Myth of Theseus, notably from the Greek hero of this encounter with the sadistic Procrustes. Symbolically, Procrustes sets the intellectual tyranny exerted by people who do not tolerate or accept the actions and judgments of others, revealing itself as allegory can now revealed by the intransigence of solipsism judicial posture that crystallizes a picture of judicial discretion the result of some resistance positivist paradigm. Thus, we point to overcome this solipsistic attitude, founded in a transcendental subject, from the hermeneutics of Heidegger and Gadamer, which allows the array, since the establishment of certain standards hermeneutic, the preservation of autonomy and the right consistency. 

KEYWORDS: Philosophical solipsism; judicial discretion; legal hermeneutics. 

SUMÁRIO: Introdução; 1 Procusto e discricionariedade judicial; 2 O cerne da problemática discricionário-procustiana: o solipsismo filosófico; 3 Hermenêutica jurídica e a necessária superação do paradigma da filosofia da consciência: aportes para o destronamento do sujeito solipsista; Conclusão; Referências. 

SUMMARY: Introduction; 1 Procrustes and judicial discretion; 2 The heart of the problem procustian-discretionary: the philosophy of solipsism; 3 Legal hermeneutics and required addressing overcoming the paradigm of philosophy of consciousness: contributions to the dethronement of the subject solipsist; Conclusion; References.


Texto completo:

PDF

Referências


BAUMAN, Zigmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

BRANDÃO, J. de Souza. Mitologia grega. Petrópolis: Vozes, v. III, 1987.

CARNAP, Rudolf. The logical structure of the world. Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 1969.

CHARLES, Sébastien. O solipsismo como forma extrema de ceticismo no século das luzes. Dois Pontos, Curitiba, São Carlos, v. 4, n. 2, out. 2007.

DESCARTES, René. Discours de la méthode. Paris: Lutetia, 1940.

GADAMER, Hans-Georg. Mito y razón. Barcelona: Paidós, 1993.

______. O problema da consciência histórica. Org. Pierre Fruchon. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

______. Verdade e método. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.

HACKER, P. M. S. Insight and illusion: themes in the philosophy of wittgenstein. USA: Oxford University Press, 1987.

HEIDEGGER, Martin. Ser y tiempo. Traducción, prólogo y notas de Jorge Eduardo Rivera C. Santiago. Chile: Editorial Universitária, 1997.

INWOOD, Michael. Heidegger. São Paulo: Loyola, 2004.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

MUGURUZA, E. M. Al respecto de lo que existe y de lo que puedo decir que existe: una lectura “onto-logica” del Tractatus. Maiêut. Dig. R. Fil. Ci. Afins, Salvador, v. 1, n. 1, p. 46-63, maio/ago. 2006.

NEVES, A. Castanheira. A crise actual da filosofia do direito no contexto da crise global da filosofia. Tópicos para a possibilidade de uma reflexiva reabilitação. Boletim da Faculdade de Direito. Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra, 2003.

OLIVEIRA, Rafael Tomaz de. Decisão judicial e o conceito de princípio. A hermenêutica e a (in)determinação do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

PALMER, Richard. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70, 1989.

SÁENZ, J. Montoya. La filosofía de “lo místico” en el tractatus de wittgenstein. Logos. Anales del Seminario de Metafísica, IV, 1969.

SCHOPENHAUER, Arthur. Crítica da filosofia kantiana. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

______. O mundo como vontade e representação. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

SOARES, Luiz Eduardo. Hermenêutica e ciências humanas. Estudos históricos. Rio de Janeiro, n. 1, 1988.

STEIN, Ernildo. Diferença e Metafísica. Ensaios sobre a desconstrução. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2000.

STRECK, Lenio Luiz. Aplicar a “letra da lei” é uma atitude positivista? Novos Estudos Jurídicos, v. 15, n. 1, p. 158-173, jan./abr. 2010.

______. Da “justeza dos nomes” à “justeza da resposta” constitucional. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, Bauru, v. 43, n. 50, p. 91-114, jul./dez. 2008.

______. Hermenêutica jurídica e(m) crise. Uma exploração hermenêutica da construção do Direito. 8. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

______. Hermenêutica, constituição e autonomia do direito. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD), 1(1): 65-77, jan./jun. 2009.

______. O direito de obter respostas constitucionalmente adequadas em tempos de crise do direito: a necessária concretização dos direitos humanos. Hendu, 1(1), jul. 2010.

______. O que é isto – Decido conforme minha consciência? Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.

______. Verdade e consenso. Constituição, hermenêutica e teorias discursivas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

TORRES FILHO, R. R. Apresentação. In: SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

WITTGENSTEIN, Ludwig. The blue and brown books. 2. ed. New York: Harper Torchbooks, 1960.

______. Tractatus logico-philosophicus. Edición electrónica bilingue (alemán y español) de www.philosophia.cl. Escuela de Filosofía Universidad ARCIS.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2017 Ricardo de Macedo Menna Barreto